segunda-feira, 24 de junho de 2013

Preferências do consumidor

O gosto é construído socialmente. Os fatores sociais influenciam nosso paladar e as escolhas alimentares que fazemos. O homem (de modo geral) é onívoro, mas as regras culturais fazem com que existam variações no modo de lidar com a comida.

A região onde se mora, a religião praticada, a classe social a qual é pertencente, a casta, o gênero e a família são alguns dos fatores impactantes na escolha e no hábito alimentar.

Então, assim se explica porque o gosto individual pode ser diferente mesmo em membros de uma mesma família.

Além dos gostos culturais, há a maneira como o gosto surge e como é utilizado como ferramenta de demarcação dos limites sociais entre classes.

Foi verificado que o modo e o que é consumido são reflexos da expressão da classe social dos grupos de indivíduos.

O habitus se refere às ações, atitudes, costumes, práticas, escolhas, opções e situações habituais que são normalmente associadas ao segmento social e à posição do indivíduo na sociedade. Esse conceito não indica a obrigação e sim as tendências e predisposições em adotar práticas específicas em detrimento de outras e é adquirido de forma inconsciente pelo simples fato de estarmos imersos em um meio social específico. Assim, para cada grupo social, as predisposições variam, mas sempre parecem evidentes, sensatas, prudentes, e até naturais.  

"Não somos livres, tampouco forçados; somos inconscientemente influenciados."

O habitus, a classe e o estilo de vida pesam de modo a tornar algumas escolhas pouco prováveis. Diane Seymour nos dá o exemplo, dizendo quão improvável é um trabalhador braçal comendo caviar. 
O comportamento do consumo e do gosto expressam diferenças de segmentos sociais e fazem parte da luta por dominação e legitimidade de classe.
Quanto ao gosto gastronômico, considera-se que, à medida que alguém sobe na hierarquia, a proporção de renda gasta com alimentação diminui e a proporção do consumo de alimentos pesados e gordurosos (alimentos baratos) também declina.

Pierre Bourdieu aponta divergências entre os segmentos sociais da França, utilizando um comparativo de capital cultural e econômico, de modo a visualizar que as diferenças de gosto alimentar são, na verdade, a oposição entre o gosto baseado no luxo e o gosto influenciado pela necessidade.

Então, as condições materiais regem o gosto, de modo que os indivíduos são divididos em quatro grupos básicos distintos, onde o padrão de consumo é expresso pela relação de influência, luxo e/ou necessidade.

O grupo 1 possui capital econômico alto e capital cultural relativamente baixo. Como consequência, seus gostos se direcionam aos alimentos de alto custo financeiro e com grande aporte calórico, consumindo refeições com vários pratos, compostos de ingredientes raros. O preparo costuma demandar tempo, por ser mais complexo. Não há restrição econômica. Consumo de foie gras, carnes de caça e vinho.

No grupo 2, há capital cultural alto e capital econômico baixo. Isso reflete no gosto alimentar de forma que essa parcela social busca originalidade, cozinha exótica, comida étnica. Preferem pratos de preparo rápido.

O grupo 3 contém capital econômico e cultural em nível médio. Essa categoria busca comida leve, refinada, de cozinha tradicional, produtos raros e mais caros, porém com baixo teor calórico. As preparações demandam pouco tempo.

Por fim, o grupo 4, que apresenta capital econômico e cultural baixo e dá preferência por alimentos pesados, de alto teor calórico e de baixo valor financeiro.

Além do gosto alimentar, as classes sociais também exprimem sua distinção através da música, arte, vestimentas, decoração e de outras muitas formas. Vale ressaltar que não são somente os critérios econômicos e materialistas que influenciam na construção do gosto. A construção do gosto é derivada do determinismo (ocupação profissional e renda).

Referência: Livro Gastronomia, restaurantes e comportamento do consumidor.

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